segunda-feira, 7 de julho de 2008

Toda quarta-feira Rita ia ao bar do Manolo. Sentava-se sozinha numa mesa bem arejada. O garçom ia ao seu encontro com um cinzeiro e uma água com gás. Ela agradecia com um aceno de cabeça e puxava o cigarro para que ele o acendesse. Enquanto ela dava o primeiro trago ele perguntava se desejava o de sempre, ela concordava mais uma vez movimentando a cabeça e voltava seu olhar para o infinito.

Rita ainda era solteira. E não sei bem se na esperança de encontrar alguém interessante ou se na tentativa de se mostrar uma mulher independente, toda quarta-feira ela se sentava na mesma mesa daquele bar e acompanhada de um uísque lançava o olhar ao horizonte.

Acontece que ela era uma mulher bonita, de pernas torneadas, cintura fina e seios modestos. Tinha os olhos castanhos, tão escuros que pareciam mais profundos que o oceano. Seus cabelos crespos eram sempre bem cuidados e exalavam um perfume discreto, que só se sentia na mais íntima proximidade.
.
Muitos homens tentavam se aproximar de Rita. Sentavam ao seu lado, perguntavam se esperavam por alguém e então pediam ou mendigavam sua atenção. Ela não se importava, conversava. Algumas vezes por horas, outras até a primeira cartada de sedução barata que os cavalheiros lhe lançavam. Às vezes ela se interessava, deixava-se seduzir pela cantada mais cafageste. Envolvia-se.
.
Certa vez Rita saiu do bar com um desses fáceis amores. Passou três meses afastados do seu recanto, mas voltou. Voltou com o mesmo olhar no horizonte, e passou a noite inteira sem dar uma palavra, sem responder a nenhuma investida. Depois de apagar o último cigarro, pegou o troco que o garçom havia deixado no canto da mesa. Entre as notas tinha um papel um tanto molhado com um telefone e umas palavras “espero ansioso pelas quartas”. Rita guardou o papel na carteira, levantou o rosto timidamente e sorriu para o amigo.
.
Aquela noite havia acabado. Foi embora e nunca mais voltou.

Agostina Segatori Sitting in the Café du Tambourin [Van Gogh]



3 comentários:

Fisioterapia em Coloproctologia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fisioterapia em Coloproctologia disse...

Oh, criatura... o texto é seu? Tá sabendo que eu até me identifiquei com ele? rs


Muito bom!


SARAH M.

Lesselis disse...

Triste.