domingo, 22 de março de 2009

Domingo a noite

Não dava pra ficar em casa com aquele calor todo. O dia tinha sido uma negação. Não faturei nada. O centro morre no domingo e quem se lasca sou eu. Sinto uma dor fina na barriga. Fome. Queria comer. Queria comer alguém. Só que ninguém vai entrar pela porta desse barraco, abrir as pernas e raiar o dia trepando comigo. Estou fodido, com fome, mal pago e sem mulher. Uma secura triste. De tanto bater punheta vou terminar esfolando o pau. À noite tava muito quente. Enrolo na cama até me tocar que não vou dormir mais. Já passava das nove da noite e eu não agüentava o cheiro de suor e mijo de onde eu estava. Resolvi dar uma volta. Visto a bermuda, ponho uma camisa que não fede muito, calço a chinela e sigo pra fora. A fumaça do cigarro vai comigo. Único amigo e companheiro.
Desço a Suassuna pensando na merda que é a minha vida. Então eu vi essa menina. Tava no ponto de ônibus. Ela saiu pra ficar comigo. Me dar carinho. Morena magrinha, de bunda caída e peito chochinho, de cabelo liso. Usa vestido estampado de tecido que mulher de bacana usa na academia e estica. Ela mora lá no fim da avenida. Passeia com uma coroa de cadeira de rodas perto do lugar que eu cato papelão todo fim de tarde. Já bati punheta pra ela. Quando ela olhou e me viu, o olho preto dela no meu, parou na minha frente. Fiquei na minha falando tudo sem dizer nada. Eu amava você se você me amasse. Mas eu sou um fodido. Fodido e mal pago. Ela não saiu de lá.
Fiquei sentado na parada também, esperando o ônibus dela. Não tinha mais ninguém na parada. Perguntei se ela tinha fogo. Fez com a cabeça que não. Perguntei qual o ônibus que ela estava esperando. Qualquer um servia. Chamei ela de linda e do canto da boca dela ganhei um sorriso preso. Falei mais coisa e ela respondeu como pode. Ela me evitando, me testando, querendo dizer que eu não era macho pra ela. Isso me dava umas agonias, feito sarna. O cheiro que saída dela era bom pra cacete. Não era azedo feito meu suor. Dava vontade de apertar o pescoço dela, dar uma surra, puxar pelos cabelos e chamar tudo quanto é nome que se dá pra uma mulher que sai de casa uma hora dessas e não faz nada pra resolver o meu tesão. Ela ficava meio que de costas pra mim, olhando pros lados, sem me perder do seu campo de visão. Eu fiquei naquela de tentar alguma coisa a mais. Tirei a camisa. Só ficava pensando em como eu ia ficar com ela. Eu estava respirando forte. Passando a mão no meu corpo pra ela saber que quero ela. Abri a calça pra ela ver meu pau latejando de tão duro. Doía. Queria mostrar o que ela tava fazendo comigo. Só pensava pra onde arrastar essa nega. Lembrei que mais a frente tinha uma rua que era escura e não passava ninguém. Bastava chegar junto, falar pouco com uma voz bem grossa e puxar ela pelo braço. Pra tudo correr sem estresse era só ameaçar mostrando a mão aberta perto da cara dela se ela resolvesse fazer alguma coisa. Bastava ter coragem. Ver o momento certo pra ela não sair correndo e aí dar em merda. Tinha de dar o bote certeiro.
Então, do outro lado da rua, veio um cara. Magrinho, menor que eu, brincando com um pedaço de pau na mão feito uma espada. Tremendo cuzão. Ela atravessou a rua, falou qualquer coisa e seguiu com ele. Puta! Esperei o cigarro acabar e segui o caminho deles. Quero ver aonde eles vão. Se desse quebrava o cara e ficava com ela pra mim. Eles me viram e apressaram o passo. Atravessaram a rua e foram até o SENAC. Continuei andando sem mudar de calçada. Quando passei os dois estavam com os vigias de lá. Todo mundo em silencio esperando alguma merda. Saí andando como se não fosse comigo. Parei umas duas esquinas depois pra esperar a menina. Os quatro ficaram me olhando de longe, como se eu fosse um bicho. Ficamos nesse jogo de paciência até que eu resolvi seguir meu caminho. Andei até o dia quase raiar. Voltei pra casa. Já era segunda. Tomei água e fiquei ninando a fome. Pedindo para ela me dar o direito a ter meia horinha de sono, porque eu daria de comer a ela quando fosse trabalhar. E fiquei lá, sozinho, fodido, com fome e mal pago. Odeio domingo.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A propaganda é a alma do negócio

Saí para beber hoje. Muita gente na mesa. Homens que gostavam de mulheres, mulheres que gostavam de homens e algo entre os dois tipos compunham o publico que resolveu comemorar a sexta-feira 13. Então um doido falou que a MISTY (Uma boate que tinha funcionado há alguns anos atrás no Recife, a primeira no segmento GLS) na festa de reinauguração, posicionaram uma câmera que ficava transmitindo diretamente para a internet. Você entrava no site da boate via tudo que estava acontecendo lá, incluindo o áudio, em tempo real.
Em determinado momento ele falou que ouviu do áudio que vinha da câmera, dita por uma voz feminina “Pô, essa boate é massa. Me agarrei com três doidinhas e já esquematizei para comer uma delas”. No minuto que ouviu o que ouviu ele falou “Espera aí que eu também vou!”. Falou que quase tomou coragem pra sair de casa naquela noite, pegar o carro e se meter em uma boate GLS.
Não sei se isso realmente aconteceu. Mas se eu tiver algum estabelecimento do tipo, no dia da inauguração, vou pagar alguma coisa para garotas falarem frases desse tipo perto do microfone da câmera. Garanto que ia lotar na estréia.