segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tempoeira

Todo dia eu acordo mais cedo
Para conseguir chegar mais rápido onde sou cobrado,
fazer a tempo tudo o que preciso para ficar livre das minhas obrigações
aquelas coisas todas onde me meti.
Finalmente ser deixado em paz
Ter o tempo livre que desejo e deixei de usar no instante que acordei mais cedo.
Mas a cada momento que fico mais livre crio outros grilhões
Que me deixam preso a novos trabalhos
E acordo mais cedo ainda
Para lidar com essas novas condições
E encontrar tempo de descansar, viver.
Mas o tempo passa em outra velocidade
Surgem novas variáveis que não estavam previstas
(Ônibus
Trânsito
Esqueci!
Não veio?
Não ficou pronto a tempo...)
E eu resolvo cortar justo onde dói mais
Todo dia é o mesmo dia
Porque eu ainda não fui dormir.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Hay kay do liso

Da sala por quarto,
Do quarto pra sala
Rotina de liso é foda.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

E aqui estou. cansado da solidão, do tédio e mais três coisas que incomodam a humanidade desde o inicio dos tempos a sua escolha. A vida, nesse dia de hoje, é essa. Estagnada feito trânsito das metropoles que vão acabar em ecatombe. há tempo até para pensar em pessoas imaginárias. Agora, nesse exato momento uma garota perde a virgindade, outra viu algo que não devia e mais duas acabaram de dar um beijo. com toda certeza uma delas vai se arrepender muito do que fez. Não há como precisar o que acontece. Não vale a pena. Assim como o tédio, tratam-se de ações inexplicaveis aos homens de outros lugares e tempos. Iriam acontecer cedo ou tarde. Na verdade no momento que elas estiverem prontas para estrear, mesmo sem saber ou contra sua vontade. Seria a centelha divina operando nas suas vidas? acho que não. seria presunçoso demais atribuir todas as ações da terra ao mecanimo divino. Algumas (como os casos que citei no momento) são do nível das porcas que caem do bolso furado do mecânico de foguetes. E sem saber o motivo certo, acabam conquistando o espaço sem esforço algum. de qualquer forma haverão ramificações, interpretações dos fatos (erradas na maior parte dos casos) e consequencias dos atos praticados pelo exercício do livr-ábitrio. não as conheço e por isso não me sinto desposto a julga-las. quanto a mim? bom, estou querendo voltar a descobrir para lembrar qual o caminho que escolhi.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Considerações no dia de chuva

eu quero aquela sensação perfeita de acordar num dia de chuva depois que o despertador toca. Para primeiro reconhecer o som das gotas d'água salpicando insessantemente o vidro da janela. Olhar o mundo lá fora em tom de cinza. menos claro, mais quieto, duas marchas abaixo da velocidade normal. preencher as narinas com o ar gelado e assopra-lo quente em resposta ao frio. para em seguida lembrar que não preciso sair da cama agora, nem fazer o café, tomar banho e ir ao trabalho. então, como prêmio pelos meus bons serviços ao mundo, me encaixo melhor entre as pernas e braços dela, cubro-me com o lençol e sonho, que quando juntos, não me fazem sentir a dor do mundo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

definitvamente Atílio não servia para o esporte.

muito menos o esporte para nosso sendentário em questão. A velha história do casal que não nasceu para viver junto, por mais que tentasse. isso de ficar sarado a base de suor, carreira e o escambau não estava traçado nos seus planos. Na natação ficava sempre gripado, no futebol vivia torcendo a perna, no judô o braço estava sempre inchado e a medida que os esportes individuais se mostravam menos convidativos ele mandava as favas todo aquela conversa mole de fitnnes e vivia feliz. Até voltar a perceber o bucho crescendo na medida que as farras aumentavam e a vergonha de tirar a camisa na praia crescia em proporção inversa que ele se sentia menos desejado.
resolveu, como todo clássico amante frustrado do esporte, apostar. ciclismo foi a bola da vez. trajeto simples. coisa de alguns quarteirões e voltar para casa a tempo de tomar café e seguir para o trabalho.
acordou as cinco e quarenta da matina. Ainda em jenjum botou uma bermuda preta, camiseta azul, tenis e óculos. alongou as extremidades com o pouco q se lembrava das aulas de educação física. retirou a velha magrela da condição de obra de arte e desceu com a inseparável magrela para cruzar as ruas do centro do recife pela manhã. os poucos carros, a gente trabalhadora que sai de casa ainda escuro para chegar cedo no serviço e os passaros a gorguejar eram as testemunhas da nova tentativa do atleta.
seguiu em disparada o destino. logo de início notou que a bicicleta estava além do normal de pesada. os peneus estavam murchos. nada que uma parada providencial no posto de gasolina que fica em frente ao colégio Decisão não resolvesse, pensou. somando o tempo da parada, percorreria o trajeto em torno de vinte minutos. isso lhe permitiria um banho, café da manhã contemplativo e chegar ao trabalho com tempo de sobra. chegar ao posto não foi problema. mas coisas começaram a pender para o lado do rastro de corno por lá.
ao inserir a mangueira no pito do peneu ele se esvaziou por completo. ao apertar os botões da bomba de ar ela não fazia nada. e ao pedir para o frentista que lhe garantiu que a bomba funcionava para que (a contragosto) ele operasse a geringonça (afinal, a culpa é sempre do usuário incompetente) o funcionário concluiu que (de fato) ela estava quebrada. (merda)
Saiu de lá empurrando aquele trabolho de peneu vazio o mais rápido que podia até em casa. para passar o tempo que passou posando de mané, relembrou de todo mundo que odeia e lhe sacaneou para ter mais raiva da própria vida. chegou com meia hora de atraso e teve apenas quinze minutos para se arrumar para o trabalho. pela enézima vez não deu.
mas não foi de todo o mal. refletindo a noite, depois de um dia de cão, avaliou o tempo que percorreu resolveu não ser tão radical e dar mais uma chance ao mundo dos atletas. algo mais simples e menos tecnológico, como o cooper.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Pra não perder o carnaval

Pessoal: o negócio eh cantar no meio do salão (ou perto da mãe), bem alto, essas marchinhas que eu pesquisei entre os mais antigos foliões que conheço (pessoalmente)

Você precisa conhecer Dois Unidos
Você precisa conhecer a Detenção
Você precisa levar pedra pesada
Nessa cabeça rapada
Pra deixar de Ser Ladrão

Você pensa que o tomate é caro...

Caro é Alho!
Caro é Alho!

Você pensa que A mulher é manga
Mulher não é manga Não
Manga você descasca e chupa
Mulher não se desgasta não...

(bom carnaval aos dois, talvez três, leitores dessa joça jogada as moscas:D)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O sabor das azeitonas

Nove anos. Quase duas mãos inteiras de dedos pra cima. Quando cheguei aqui no bairro eu só levantava uma mão quando me perguntavam quantos anos eu tinha. Nem acredito que cheguei até aqui. Até parece que foi ontem que eu era da alfabetização e meu pai lia para mim tudo que eu não entendia no mundo. Dos letreiros de ônibus aos livros. Não conhecia ninguém na rua. Não sabia brincar de nenhuma brincadeira que os meninos brincavam. No futebol era um dos últimos a ser escolhido. Ninguém me falava um segredo, por menor que fosse. Mas hoje estou aqui entre os primeiros a ser escolhido e sei da vida de todos os meus amigos.
Inclusive os meninos mais velhos que apareciam de tempos em tempos com aquela sacola cheia de azeitona preta. As mais gostosas que eu já havia comido. Eu perguntava onde eles achavam tanta azeitona assim. Era segredo, mas eu insisti tanto, emprestei tanto meus brinquedos, convidei tanto para irem a minha casa que certo dia o Tobias me falou aonde eles iam toda tarde depois da escola. Pedia para ir junto, mas eu era muito novo. Minha mãe não ia deixar, e a mãe de algum deles deixava? Se soubessem, duvido que deixassem. Custou, custou, custou até eu consegui ir com eles.
Certo dia o Marquinhos esqueceu a sacola e todo mundo ficou com preguiça de ir pegar em casa. Eu morava mais perto. Pediram para que eu pegasse. Falei que só ia se eu fosse junto. Junto pra onde, menino? Queriam desconversar. Eu disse que sabia do lugar secreto e que só pegava a sacola se eu fosse também. Ta, pega. Foi o que Tobias disse pros outros três. Os outros não acharam boa idéia. E se eu me acidentasse? Fizesse alguma merda como chorar, falar para a mãe de algum deles ou coisa do tipo? Ele falou para todo mundo sossegar, que eu já me garantia. Ele tomava conta de mim, como se eu precisasse de babá aos nove anos.
Tobias já tinha onze, já era adolescente. Eu o achava meu melhor amigo. Foi comigo pra minha casa tomar um copo d’água e pegar a sacola. Os outros seguiram na frente. Coloquei a sacola no bolso da bermuda e fomos andando. Nem sei quanto tempo andei. Acho que uns trinta minutos. Cada vez tinha menos casa e mais mata. Até que a gente chegou no muro do Golfe Clube. Era maior que eu e Murilo. Devia ter quase dois metros. Tentei, mas não tive força para levar o corpo pra cima. Pedi um calce. Ele me pediu as sacolas. Disse que só dava se ele me desse um calce. Ele soltou um sorriso, mandou eu me fuder, subiu em menos de cinco segundos, e pulou pra dentro do terreno do Golfe Clube. Aquilo me deixou com tanta raiva que eu acabei pulando no muro e subi quase morrendo.
Tobias estava começando a andar por um matagal e eu chamei o nome dele. Ele olhou surpreso. Vai ficar aí em cima ou vai entrar? Pulei e já fui andando no passo dele. Mais cinco minutos por uma trilhazinha escondida no mato. Cheiro de bosta, de lama, e de capim molhado. Um monte de mosquito passando e entrando na minha boca e no olho, que eu cuspia tudo para fora. O sol deixou a minha camisa grudada nas minhas costas. O suor também escorria pela minha testa e acabava pingando pelo meu nariz. Andamos até encontrar os outros escondidos por detrás de um arbusto. Nessa hora Tobias colocou a mão no meu peito e diminuiu o passo, andou agachado e eu fazia tudo que ele fazia. O vigia ainda não tinha largado. Era só esperar mais um pouco eu ia finalmente conhecer o lugar secreto.
Ficamos falando baixinho. De jogo, de desenho, das meninas, da mãe um do outro de como era a escola e tudo mais. Até Marcelinho dar o veredicto positivo. As portas do paraíso estavam desprotegidas e nós poderíamos invadi-lo. Eles andaram por mais uns cinco minutos e acabamos saindo no campo de golfe.
Chamar aquilo de campo de golfe seria pecado. Era feito o céu de tão bonito. Com aquela grama verdinha e bem aparada, as árvores compridas fazendo bosques aqui e acolá, os morrinhos onde a cor da grama ficava diferente e eu sabia que era onde estavam os buracos onde a bolinha devia ir. Não tinha um muro, uma parede, um prédio, um adulto, uma menina, nada que não fossemos nós e um monte de aventuras miraculosas vindas da cabeça de meninos suburbanos.
E a gente correu, gritava uhrrú pro vento, dava cambalhota, estrela, bunda canastra e o escambau. Até que chegamos aos pés de azeitonas pretas. Carregados de mal manterem-se em pé. Subíamos em todos feito macacos. Árvores feitas para a altura de meninos arteiros como nós. Que não ligavam de pular de um galho para outro e nem tinham vertigem quando olhavam para o chão.
Naquele instante descobri o motivo daquelas azeitonas serem mais gostosas do que as que meus pais compravam na feira. Eu tinha deixado de ser o menino da minha mãe naquele dia. No passar daqueles dias acabei aprendendo a ir sozinho pro paraíso. Se bem que era muito melhor ir com meus amigos.
Agora eu queria mais, e tudo que passava na minha cabeça era prever o futuro e saber quantos dedos teria de levantar até finalmente dar um beijo desses que só via na novela.