quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Insônia


Dez da noite. Perdeu o sono e olhou o relógio para ver que ainda faltava muito tempo para se livrar do pensamento. Não podia mais ficar sem dormir. Resolveu acabar com aquilo tudo. Sentou-se na cama. Fumou dois cigarros ininterruptos preparando o espírito. Com telefone no colo discou o número dela. Esperou atender. Alô? Locadora? Essa linha é sua há muito tempo? Há quanto tempo vocês inauguraram? Desculpe, liguei errado. Discou outra vez. Novamente locadora. Mudou os algarismos pelo menos três vezes. Engano em todas. Ela não mudaria o número assim de uma hora para outra na mesma semana. Muito menos por causa do fim do namoro. Seria ridículo. Qual era mesmo o telefone dela? O tempo nem passou e uma coisa que sabia de cor, feito senha de banco, sumiu sem deixar vestígios. Desde que acabou com ela não dormia direito. Justo hoje isso veio lhe tirar o sossego. Mas afinal todo mundo esquece uma vez na vida a senha do banco, certo? Devia ser o nervosismo, de mesmo contrariado, ceder aos caprichos daquela mulher só para tê-la novamente. Caçou o número pela casa. Não encontrou. Nem no celular nem na agenda que fica ao lado do telefone. A raiva da época foi tanta que destruiu tudo no ultimo dia de Shiva, junto com todas as fotos e lembranças. Dez e quinze da noite. Ligou o computador e acessou o menssager. Outro cigarro para segurar a coragem de conversar com ela quando a encontrasse. Não estava lá. Umas duas janelinhas vieram lhe falar assim que conectou. Era para saber da vida e se estava tudo confirmado para o fim de semana. Tudo certo! Mais três diálogos paralelos com os dois até perguntar aos amigos se eles tinham o telefone dela. Não tinham não. Que coisa! Passou a barra de rolagem em busca de mais alguém que tivesse alguma informação útil. Mesma conversa com os outros com resultados iguais. Uma amiga lhe passou um número. Tem certeza que é esse mesmo? Você não está me dando o número daquela menina que eu te apresentei no festival da semana passada? Esse eu já tenho. Não é o que estou procurando. Mesmo nome, pessoas diferentes. Foi o mais perto que chegou. Cansou de perder tempo. Ninguém sabia dela ali. Saiu da internet e resolveu passar no bar que iam juntos. Perguntou ao garçom se alguém com a péssima descrição que conseguiu forjar dela passou por lá esses dias. O homem fez uma cara de esforço, mas a memória não ajudou. Encontrou alguns amigos numa mesa próxima. Não a conheciam. Estranho, beberam juntos várias vezes naquele bar, como não se lembravam dela? Tomou o carro decidido a dormir bem naquela noite. Seguiu para onde ela vivia. Apesar de só aparecer naquelas bandas para ir buscá-la ou dormir ao seu lado, achou tudo diferente. As ruas, as casas, o lugar como um todo. Não encontrou o que procurava. Voltou para casa, tirou a roupa e foi para a varanda fumar outro cigarro. Gastou praticamente todo o crédito do celular ligando para os números da agenda e ninguém sabia onde ela tinha ido parar, ou mesmo quem era. Nunca se soube. Nem os próprios pais lembravam. Parou fitando o vazio que acabava no caos da paisagem. Tentando encontrar uma solução para aquela situação, qualquer possibilidade era plausível para poder dormir. Atinou que não lembrava quando tinham acabado e nem o que fizeram juntos. Nenhum momento sequer. Quando a resposta veio à tona custou a acreditar. Quem lhe fez perder o sono não existia. Ela não passava de um assombro. Algo tão presente quanto um monstro debaixo da cama. Delírio de uma mente insone. Tragou forte dessa vez por não ter percebido o quanto sua solidão tomou força. Pelo menos dormiria tranqüilo de agora por diante.

2 comentários:

Unknown disse...

bom recomeço...ta uma coisa meio conversas no dom café, clube da luta e desejos secretamente íntimos... gostei...

Unknown disse...

texto bem interessante...
bom desenrolar...

bjo e que boas ideias fluam...