sexta-feira, 15 de maio de 2009

Irreversível



Se soubesse que ia ser desse jeito eu jamais teria ido lá. Entrei em sua sala e ele mal olhou para mim. Preenchia algumas fichas e assinava papeis para logo em seguida carimbá-los numa cadencia burocrática de vários anos. Sentei-me em sua frente e a sua secretária nos deixou a sós. Conversamos alguma coisa sem muita importância para ele, como eu me sentia. Então ele me levou para o fundo da sua sala. Lá havia uma ante-sala reservada. Quando lá cheguei, mandou que eu deitasse em uma cadeira que estava ali especificamente para esse fim. Queria que eu já estivesse pronta enquanto ele despachava a sua funcionária. Percebi que eu não era a única a passar por aquela experiência traumática. Ele sabia muito bem o que estava fazendo e o que queria de mim. Sozinha, tentei relaxar sem muito sucesso tamanho meu constrangimento. Ao confirmar que estávamos a sós subitamente seu comportamento desinteressado em mim mudou. O homem avançou em minha direção me imobilizando com uma força inesperada, já devidamente armado. Congelei ao perceber no que estava me metendo. Então ele começou a sua tortura. Sem perder tempo o sujeito encaixou “aquilo” no meu buraco e iniciou seus trabalhos. Por cima de mim fazia o que queria para conseguir realizar seus objetivos pouco se importando comigo. Tive medo, muito medo. Pensava nos meus pais, nos meus parentes, meus amigos e meu amor o tempo todo. O que eles iriam falar de mim? Pedia a Deus para que qualquer um pudesse me arrancar daquela sala. Mas não havia ninguém. Então, ao perceber a minha situação e opções, em pânico, gritei empurrando-o de cima de mim. Minha reação impensada o fez se afastar. Consegui atrasar um pouco o inevitável. Isso não foi nada bom. Empunhado seu instrumento ameaçadoramente, ele mandou-me ficar quieta ou aquilo tudo poderia ser muito pior. Minha coragem esvaiu-se ao som daquelas palavras. Para evitar que ele me ferisse gravemente, acabei aceitando a minha situação permitindo a conclusão violênta contra meu corpo e alma. Limpei minha mente e abstrai a respeito do que estava sendo submetida. Foram apenas mais alguns minutos de agonia, parecidas com horas intermináveis. Quando tudo acabou ele se afastou retirando-se para a sala do nosso primeiro encontro. Ainda permaneci em estado de choque sentada naquela cadeira. Não sei de onde tirei energias para sair de lá e seguir em seu caminho. Sentei-me a sua frente. Evitava olhá-lo nos olhos. Não valia a pena passar por tudo aquilo por tão pouco, pensei comigo mesma, o que a necessidade fez comigo? Estupefata, refleti a que ponto tudo tinha chegado. Então ele me entregou um daqueles papeizinhos assinados que ele dá a todos que vão lá para fazer o que eu fiz. Segurei aquilo ainda tremula e li o seu conteúdo. Tudo certo, pelo menos isso. Ele chamou a secretária e mandou que outra assumisse meu lugar. Enxotada, saí de lá jurando para mim mesma que jamais me sujeitaria aquele tipo de criatura ou poria os pés naquele antro novamente. No mesmo dia, fui à recepção e marquei outro otorrino. Não quero saber nunca mais de acumular cera no meu ouvido e ter um carniceiro daqueles para limpa-lo.

4 comentários:

Unknown disse...

so pessoas como ricardo sao capazes de escrever um texto como esse!

Stefania Régis disse...

NÃO VOU COMENTAR!!!!!!!!!!!!

Karlla Coelho disse...

Oxe, que nada!
Lavagem nas zureia é mara!
=]

Unknown disse...

Nossa, adoro essas histórias com um final surpresa... Cheguei a ficar tensa!!! Felizmente era só uma pecinha pregada pelo autor hehe