quarta-feira, 1 de abril de 2009

Iron Maiden no Recife - Confissões de quem foi.

Ainda lembro como se fosse ontem, ou outro dia que invento coisas para compensar os lapsos de memória. Manhã de sábado de 2008, ressaca, nove da manhã. Até aí nada de anormal. O jornal me aguarda na mesa. Como sou o assinante minha mãe permite que eu seja o primeiro a abri-lo. Graças a vida fútil de intelectual que levo, sempre leio primeiro o caderno de cultura. Então lá no finalzinho do rodapé da pagina, esquecida para os olhares desatentos, estava: IRON MAIDEN VAI TOCAR NO RECIFE. Não acreditei, mas se estava no jornal tinha chance de ser verdade (pelo menos noticias desse nível de interesse). Uma das bandas que conseguia balançar minha cabeça em frente de uma caixa de som, junto aos meus amigos, viria para a maior cidade de interior do mundo.
Liguei para Diego, que me recebeu com os naturais queixumes que lhe são característicos. Quando lhe falei do show ouvi tanto palavrão do outro lado da linha que abri um sorrisão. Estávamos uma alegria só. Desde então decidimos que iríamos ao show. Como ele era meu parceiro o que foi possível eu fiz. De ligar para ele a cada vez que via alguma coisa até emprestar dinheiro para o ingresso. Ele também não me deixou na mão me passando muito material sobre a banda.
No primeiro dia de venda dos ingressos estávamos lá as oito da matina. Já havia pelo menos doze pessoas na nossa frente. Sei disso porque organizei uma ata para que as pessoas, caso precisassem, saíssem e quando voltassem seus lugares ainda estariam garantidos. O primeiro da fila, um menino de dezessete anos, chegou às cinco da manhã depois de passar a noite insone. A fila foi crescendo. Às nove horas, horário de funcionamento do shopping, o segurança nos avisou que a venda só estava programada para começar as treze. Ficamos lá mandando trabalho, escola ou qualquer coisa que manda na vida da gente para o inferno. Aquele era um momento nosso. Eu sabia que o show do Iron começava extra oficialmente naquela fila. Exceto pelo caso de um menino que tentou furar a fila enquanto eu estava fora, sendo repelido por Diego e passou a ser mais moral que todo o elenco do senhor dos anéis, não aconteceu nada de anormal naquele antro de headbangers. E o exercício de paciência teve mais um capítulo se encerrando às treze horas. Talvez pela influência da banda, ou profissionalismo da produtora (mistérios divinos) a venda de ingressos começou pontualmente no horário. Se me dissessem há dez anos atrás que teria um ingresso para um show desse eu não acreditaria. Voltei para casa contando os dias.
Na semana de véspera eu só era sorrisos. No dia do show eu estava insuportavelmente empolgado. Tudo era desculpa para tocar no assunto. Sai da escola para a cidade com a missão de comprar uma camisa da banda. É clichê eu sei, mas foda-se! Eu queria estar muito bem trajado de metaleiro, por mais pop que fosse essa cena. Penei para achar uma que me agradasse. Ou haviam acabado ou eram horríveis. Acabei caindo na camisa do álbum “fear of the dark” e passei o inicio da tarde esperando Diego chegar para irmos ao eldorado.
Chegamos às dezesseis. Nunca tinha ido ao Jokey. E mesmo enorme daquele jeito tinha muita gente. Mas a impressão que tive foi a que não foram tantas pessoas quanto eu esperava. De show de rock grande assim eu só tenho de referencia o Abril pro Rock. Andamos pelas imediações, mas nada que merecesse a nossa atenção. Todo mundo queria entrar. Encontrar outra cor que não fosse preto poderia ser um excelente passatempo. Um amigo de Diego nos convidou para um lugar no inicio da fila quilométrica. Entrar naquele lugar e saber que não tinha mais volta, dar um urro e saber que ia ver o Iron Maiden. Lembrei dos que foram no Rock in Rio. Agora era oficial: estava no show. Gastei meus créditos ligando para o máximo de gente para divulgar minha façanha. Eu estava lá!
Nem tudo era um conto de fadas. Parece que os produtores esqueceram que uma das melhores coisas de ser Headbanger é ficar muito bêbado, mesmo com pouco dinheiro. Mas é possível ficar assim, apenas vendendo Heineken, a quatro reais, latinha? Parabéns para quem conseguiu ficar assim; para quem não foi afoito e ficou bebendo lá fora ou trouxe uma garrafinha com algo mais forte e o segurança não viu.
Quando se espera meses e dias os minutos são torturantes. E se tem um show da filha de Steve Harris, a coisa é pior ainda. Nunca uma meia hora demorou tanto. E olhe que já dei muita aula em quinta série na minha vida. A menina até que poderia ser cantora, mas porque justo de metal? Aquilo é muito ruim (musicalmente falando) e sem personalidade (ficava gritando para a platéia “Are you ready, Recife?!” jurando que só porque funcionava com Bruce Dickson ia dar certo com ela). Ela deveria tentar alguma outra coisa. Sei lá, algo mais pro lado de Britney Spears, High School Musical ou simplesmente Paris Hilton. Rolou até uma briga próximo de onde eu estava durante o show dela, coisa que eu quase nunca vejo em show de rock. Mas quem recriminaria alguém por se estapiar depois de ouvir aquele lixo? Os pais deveriam pagar algumas horas de “vergonha alheia” antes de dar apoio a todo tipo de sonho que os filhos querem por para frente.
As vinte e uma horas e cinco minutos as luzes se apagaram, os telões se ascenderam e tudo mais fazia sentido. O show do Iron foi exatamente como eu esperava que fosse. Destaque para o comentário de um amigo meu de naza que afirma do alto da sua sabedoria eclética “Depois de Zezé de Camargo & Luciano, Iron Maiden é o melhor show ”. Cada uma que eu escuto... O palco não era tão fantastico quanto eu esperava. basicamente o cenário do Iron se resume a um grande painel pintado com os motivos da banda. Em laguns momentos eles mudam a pintura, mas no mais foi isso. Mesmo assim fiz alguns "oh..." admirado com os fogos e curti quando o Eddie Gigante caminhou sobre o palco. se tivessem posto um boneco gigante de olinda para eles se atracarem ia ser perfeito. Ou engraçado.
Não tive grandes surpresas no set list, mas foi muito bom cantar as musicas executadas ao vivo. Meu inglês enrrolation atuou a maior parte do tempo. Só lamento ter esquecido meu isqueiro nos momentos “Woodstok”. Ser verticalmente deficiente é trágico, mas um morrinho que encontrei lá me salvou de um desastre completo. Mesmo assim, vi grande parte do show pelos telões. O palco só conseguia assistir quando dava uns pulos ou ficava de ponta de pé.
O show acabou cedo, as vinte e três horas no máximo, com Bruce Dickson comentando conosco “Hey, Recfe. This is a frist time, hun?!”. Tudo isso para revelar que eles voltam para o Brasil em 2011, com o show do CD novo, que ainda será lançado. Dessa vez eu só vou se puder ficar na área VIP. Merece cada centavo gasto. Lembra que falei que o show era previsível? Pois é, a coisa era tanta que quando os primeiros acordes da ultima musica foram entoados todo mundo já cochichava que o show tinha chegado ao fim baseado nas apresentações que aconteceram nas outras cidades por onde a turnê passou. Por mais que o pessoal gritasse não voltaram para um segundo bis. Confesso que não sei de onde tiraria forças para isso.
Voltei para casa sem voz, mas feliz. E tudo isso é o que importa.

Quero mais e Motohead ^^

Um comentário:

Unknown disse...

vc comprou a camisa Iron maiden, eu fui!???